Jayme articula disputa com apoio da esquerda

03 de Junho de 2025 as 06h 36min

Com resistências internas no União Brasil e de olho no cenário das eleições de 2026, o senador Jayme Campos (União) tem se aproximado do governo do presidente Lula (PT) e de lideranças de centro. Nos bastidores, articula-se como possível candidato ao Governo de Mato Grosso, com aval de figuras influentes da política local e nacional.

A informação foi confirmada pelo ex-deputado estadual Gilmar Fabris (PSD), que revelou uma conversa com o próprio presidente da República. “Sugeri ao Jayme que fosse o candidato de centro. Inclusive, que fosse para o MDB. Em reunião com Lula, o presidente disse: ‘Se o Jayme for, nós teremos apoio’”, relatou Fabris, durante visita de Lula a Mato Grosso na última semana.

A eventual candidatura de Jayme rompe com a preferência do atual governador, Mauro Mendes (União), que trabalha nos bastidores para lançar seu vice, Otaviano Pivetta (Republicanos), como sucessor em 2026. A movimentação do senador indica um incômodo com a condução do partido no estado e um desejo de protagonismo próprio.

Jayme tem reiterado que o União Brasil deve lançar candidatura majoritária em Mato Grosso, em vez de apoiar nomes de outras siglas. Em sua avaliação, o partido não pode mais ocupar posição secundária no jogo eleitoral estadual.

Essa postura gerou ruído dentro da legenda. O ex-governador Júlio Campos, irmão de Jayme, procurou conter especulações. “Acho que não tem fundamento essa história de ele sair do União Brasil. Nós somos do partido”, afirmou.

Ainda assim, Júlio reconheceu que o cenário pode mudar. “Em política, tudo é possível. O adversário de hoje pode ser o correligionário de amanhã. Eu, pessoalmente, sou ligado ao ex-presidente Bolsonaro, mas o senador Jayme Campos é um nome que todo partido quer ter como candidato”, admitiu.

A aproximação de Jayme com o governo federal também dialoga com sua trajetória pragmática. Embora tenha sido eleito em 2018 com discurso alinhado à direita, o senador já mostrou, ao longo dos anos, capacidade de transitar entre diferentes espectros políticos conforme a conjuntura.

Internamente, Jayme busca garantir espaço e evitar ser atropelado pela estrutura montada por Mauro Mendes e seus aliados. O União Brasil, embora forte nas urnas, vive um impasse entre alas bolsonaristas e setores mais moderados — especialmente no estado.

Caso avance, a candidatura de Jayme com apoio do governo federal criaria uma situação inédita: um dos principais quadros do União Brasil encabeçando palanque para Lula em Mato Grosso, estado onde o petismo tem histórica dificuldade de se firmar eleitoralmente.

A costura com o MDB também não é à toa. A sigla busca um nome competitivo para 2026 e vê em Jayme um possível catalisador de apoios entre prefeitos, vereadores e lideranças regionais — especialmente no interior, onde o senador tem base consolidada.

Aliados de Jayme afirmam que ele está em “modo escuta”, mas que já começou a reunir apoios discretos. As declarações públicas de Gilmar Fabris foram vistas como balão de ensaio, medindo a temperatura política diante de uma possível guinada rumo à centro-esquerda.

Fonte: DA REPORTAGEM